sexta-feira, 17 de julho de 2009

DA EXPECTATIVA A DESILUSÃO,MAS...


CHALLENGE ROTH – 8 horas 32 minutos

Nada como um dia após o outro, ou uma nova prova após uma decepção.

Faz algum tempo que não mando notícias. Andei viajando muito e ao mesmo tempo, como já comentei anteriormente, fico sem animação para entrar na internet quando não vou bem numa prova.

 

No final do mês de junho viajei para Nice para competir no IRONMAN FRANCE. A prova é maravilhosa, o percurso é bastante duro com muitas subidas e descidas. Os primeiros 20 km e os 20 km finais são planos. A prova vai subindo até o km 125 e depois descemos uma serra de praticamente 35km até chegar na parte final plana, mas com MUITO vento contra.

 

Eu treinei bastante para essa prova. Não faltou nada! Fiz MUITAS montanhas e sempre as mais difíceis e longas da região de Turin. Cheguei a pedalar pela fronteira da França, nos Alpes, e por muitas vezes pedalei mais de 7 horas, chegando a fazer um treino de bike de 8 horas e 15’.

 

Meus treinos de corrida também foram feitos da melhor forma, como nos ensinamentos do Bernardinho do volei . Eu cheguei na prova com a certeza de que não poderia ter feito nada a mais do que fiz!

 

A prova contava com altissimo nível. Na natação acabei me embolando na largada e fiquei preso num grupo que acabou deixando 2 atletas escaparem. Menos mal que esse era o grupo com a maioria dos favoritos.

Saí para pedalar disputando a quarta colocação e até a metade da principal subida da prova me encontrava nessa situação. A parte mais difícil da prova é do km 50 ao 70, onde encontra-se a subida mais longa e com maior inclinação. Depois ainda continuamos subindo até o km 90 , mas com muitas retas de “falso plano”.

Inexplicavelmente não pedalei muito bem. Durante a semana me sentia descansado e estava me alimentando e me hidratando de forma perfeita. Pedalei para 5h 06’, pior que no ano passado (5h 04’) , tendo treinado muito mais, e muito pior do que em 2007 quando fiz o melhor tempo da prova com 4h 53’.

Mesmo assim ainda estava entre os TOP 10, mas quando desci da bike meu pé esquerdo doía MUITO, não podia correr e mancava…  Logo pensei: “Como vou correr uma maratona assim???!!!”  Na hora não entendi nada pois como foi aparecer essa dor sem ter sentido nada nas últimas semanas,…pensei que fosse uma fascite plantar causada pela sapatilha.

Corri duas voltas de 10.500m ainda entre os 10 primeiros mas ainda mancando um pouco. Quando comecei a me sentir mal do estômago e perder rendimento no km 23/24, decidi abandonar a prova e competir em seguida em outro Ironman.

Logo depois que abandonei a prova resolvi dar um mergulho na praia e pude notar que o arco do meu pé estava roxo e inchado. Deduzo que devo ter batido com o pé nas pedras da largada e  que não sentia dores durante o ciclismo pois não havia impactos fortes como na corrida.

Fiquei arrasado pois Nice, assim como St Croix, são as minhas provas prediletas.  Não ter completado foi um golpe que não esperava, porém  ainda havia a esperança de aproveitar todo o treinamento realizado e competir num outro grande evento.

Apesar de ter treinado ciclismo somente em montanhas, resolvi competir no CHALLENGE ROTH na Alemanha.

Foram duas semanas entre as duas provas e eu descansei bastante fazendo treinos mais curtos e procurando não treinar em montanhas.

Minha mulher (Rita) também ia correr a prova e saímos na quarta feira as 4:00 da madrugada para pegar o trem que ia de Turin para Milão e depois Roth (Via Munique). A viagem foi longa e cansativa mas a volta foi MUITO pior. Não chegava NUNCA!!! Ficamos na casa dos amigos Gerrit e Maona e foi muito legal, com astral muito bom.

Um dos sonhos da minha vida no Triathlon era fazer um Ironman em 8 horas e 30’, independentemente de colocação. Sabia que o nível da prova estava altíssimo e as características do percurso e dos concorrentes não me favoreciam.  Quando falo dos concorrentes é porque sempre que corro uma prova, vejo a Start List para saber como a prova vai se desenrolar,…se tem muitos nadadores bons ou não, se a maioria dos PROS são bons ciclistas ou corredores.  Dessa forma analiso minhas estratégias e visualizo o que provavelmente deva acontecer na prova.  Roth tinha quase 100% dos melhores ciclistas de Ironman do mundo : Norman Stadler, Ain Alar Johanson, Thomas Hellriegel, Raynard Tyssink, Torbjorn Sindballe (que acabou não correndo a prova) etc. Ao mesmo tempo não tinham bons nadadores. Somente o Pete Jacob, o que me dificultava bastante pois prefiro provas com muitos nadadores pois dessa forma o grupo se mantem compacto sem que ninguém “sobre do pé”. 

Acabou que aconteceu exatamente o que eu esperava. O Jacob abriu logo na largada e eu fiquei no primeiro pelotão saindo mais de 1’ atrás.

Não fiquei chateado pois sei que sairia destruído d'água se tivesse ido no pé do primeiro. A prova era longa e o pior ainda estava por vir,…que seria pedalar com  “os caras”.

Pedalei muito bem até o Km 120, sempre entre os 5 , 7 primeiros, chegando a estar em terceiro.  O Thomas Hellriegel dava o ritmo e um grupo com Tyssink, Tim Berkel, Patrick Vernay e eu seguíamos dentro da regra dos 10m de distância.

Felizmente quando tinha subida o ritmo caía um pouco mas nas retas era bastante forte. Logo no início o Norman passou o grupo e com 70km o Tyssink atacou e também abriu uma pequena vantagem.

Infelizmente não consegui manter o ritmo e por alguns kilometros acabei deixando o ritmo cair ficando para trás, mesmo assim ainda entre os 8 primeiros.

Em seguida um grupo de atletas me pegou, com vários “famosos” e que posteriormente estariam figurando entre os 15 primeiros.  O detalhe era que eles estavam num pelotão igual a uma prova da ITU!!!  Conforme eles me passavam eu acabei entrando no “bonde”  até ser o último do grupo e vi que só poderia ir com eles se realmente “dançasse aquela música”  igual a eles, quer dizer, andar na roda de forma descarada!!!  Na mesma hora diminuí e pensei em todos os anos da minha carreira desde quando comecei. Não poderia me prestar aquilo.  Estava prestes a fazer o melhor tempo da minha vida naquela distância e quem sabe poderia bater o recorde brasileiro. De forma alguma poderia estragar aquele momento pois haviam muitos fotógrafos, cinegrafistas etc. Seria uma vergonha para mim. Além disso tinha certeza que a qualquer momento alguém seria penalizado e eu seria beneficiado com isso.

Acabei pedalando sozinho até o final e depois de alguns kilometros “em crise”, voltei a pedalar bem fechando os 180km em 4h 35’.

Saí para correr me sentindo legal, sem cansaço nas pernas. Fui correndo ritmado sem forçar exageradamente pois realmente não sabia como meu corpo iria corresponder. Foi uma maratona onde ganhei algumas posições mas depois perdi algumas nos 2 momentos que  “andei em crise”. Fechei a maratona em 3horas 06’, passando a meia com quase 1h32’.

Minha parciais foram: SWIM – 47’ / BIKE  - 4h35’ / Run – 3h06’ e com 8 horas e 32’ no final.

Fiquei contente com meu tempo e cheguei bem perto do tempo do Reinaldo Colucci, estabelecendo o segundo melhor tempo na distância na história dos atletas brasileiros.

Pra mim isso é uma honra pois foram tantos excelentes atletas que competiram em Roth e em provas de Ironman: Roger de Moraes (primeiro brasileiro a fazer abaixo de 9 horas), Alexandre Ribeiro (durante anos recordista brasileiro na distância), Armando Barcellos.(melhor colocação brasileira no Ironman do Hawaii).

Sinceramente acredito que ainda posso fazer uns 10’ a 15’  melhor e vou lutar bastante para alcançar esse objetivo.

 

Mais uma vez muito obrigado pelo carinho e pela torcida de todos!!!

 

Forte abraço e bons treinos!!!

Marquinhos Ornellas