Na semana passada viajei para competir na França (06/09) , na cidade de Gerardmer. A viagem foi meio longa com mais de 7 horas de carro. A prova é muito dura e não tem 1 km de plano no ciclismo. Eram 2 km na natação , 93 km de ciclismo (3 voltas) e 21 km de corrida (3 voltas). Fazia um pouco de frio e estava menos de 10 graus. Minha preocupação era com a chuva pois o percurso tinha muitas descidas velozes e a chuva aumenta muito o risco de quedas. Felizmente não choveu e a organização da prova foi uma das melhores que já vi, pois era um evento promocional, sem ter nenhum envolvimento com IRONMAN, CHALLENGE ou ITU. O kit da prova era bem original e todos ganharam um casaco sensacional com a marca do evento, o público compareceu em grande número e ao lado da arquibancada havia um telão que facilitava a identificação dos atletas na chegada. Durante alguns anos eles sediaram o IRONMAN FRANCE (atualmente a prova é realizada em Nice) e talvez por isso apresentem esse padrão de qualidade que vale a pena conferir. Assim como o Triathlon do Alpe D’Huez, em Gerardmer também acontece no dia seguinte um triathlon na distância olímpica, mas sempre sem vácuo. São duas provas que vale a pena viajar do Brasil para competir e conhecer a região!
A prova contava com nível altissimo, bem maior do que eu esperava e do que havia acontecido nos últimos anos. Eu não nadei muito bem pois a largada foi muito confusa e acabei ficando enrolado num grupo perdendo o pelotão da frente que era bem forte. No ciclismo fui bem, disputando cada posição e me recuperando a cada volta. Entreguei a bike entre os Top 10 e não estava cansado. Infelizmente não pude correr bem pois depois do Ironman de Nice, onde abandonei por dores no pé, senti novamente muitas dores na primeira volta de corrida e com isso acabei perdendo tempo. Depois comecei a encaixar o ritmo mas acabei perdendo a décima colocação no final. Mais uma vez fui décimo primeiro…
Sinceramente não sabia que estava entre os TOP 10, pois o australiano Pete Jacobs (segundo colocado em Roth) me passou na segunda volta de corrida, mas ele estava uma volta atrás. Isso me confundiu pois eu havia passado ele na bike mas não sabia que havia aberto tanto. De qualquer forma sei que fiz o meu melhor dentro da situação de dores que apresentava. O frio aumentou minha sensação de dor e precisei de tempo para me adaptar a ela, com isso fiz uma corrida muito pior do que normalmente faria
Neste último domingo (13/09) fomos para o Lago Maggiore , na Itália , competir no Triathlon de Mergozzo. A prova era Campeonato Italiano na distância de 3km de natação , 80 km de ciclismo e 20 km de corrida (Duplo Olímpico).
Foi nessa prova em 2005 que começou minha história aqui na Itália pois tive a felicidade de vencê-la, fazendo uma das melhores provas da minha carreira.
Meu objetivo era realmente ficar entre os 5 primeiros mas principalmente ser o primeiro estrangeiro, pois havia uma premiação especial para estes. Meu principal adversário seria o ucraniano Wladmir Polikarpenko, mas que acabou desistindo da prova.
Nadei mais ou menos , apesar de estar treinando muito bem. Larguei por fora e me encaixei bem no primeiro grupo mas não aguentei o ritmo, saindo quase 1’ atrás na disputa do quarto lugar.
Meu pé não havia ainda se recuperado da semana anterior e tive dificuldades de correr descalço na longa transição. Me recuperei na bike e cheguei disputando o terceiro lugar. Logo na saída para corrida vi que o máximo que poderia fazer seria lutar para ficar entre os 5 primeiros pois meu pé doía muito. Fechei a prova em quinto e garanti o primeiro lugar como estrangeiro. Fico contente com o objetivo cumprido mas triste de saber que estou correndo de forma limitada…
Agora devo decidir se faço a última prova da temporada ou não pois acabei com muitas dores no pé. Logo estarei de volta ao Brasil e poderei ter meu atendimento médico com o Dr. Leonardo Metsavath no Rio.
Depois da prova fiz meu quinto exame de Controle Anti- Doping, desde que cheguei aqui na Itália em maio. O primeiro foi na França em Niederbron (Urina), depois fiz um outro controle antes da prova do Challenge Roth (Sangue), mais um logo após a prova (Urina) e agora no domingo em Mergozzo na Itália (Urina e Sangue).
O fato curioso e engraçado neste último Controle foi que durante a coleta de urina, o atleta vai num banheiro junto com um médico que observa TUDO. Estava eu lá enchendo o potinho que deveria ter no mínimo 100 ml e de repente o médico grita: “Basta!!!” Eu dei aquela “travada” e parei de “mijar”. Olhei pro médico e ele estava arrependido pois a espuma da urina o havia confundido. Ele me pediu para tentar preencher a quantidade necessária mas eu não conseguia mais. Liguei a água da torneira, dei descarga mais de 5 vezes e ficava de olho fechado concentrado…, pensando numa cachoeira ou em qualquer outra coisa que me fizesse preencher aquele “maldito potinho”. Lembrei até da minha mãe que me levava no banheiro pra mijar antes de dormir quando era bem pequeno.
Infelizmente não consegui e depois disso meu pote referente ao exame virou a atração entre os 4 médicos responsáveis, discutindo se seria suficiente ou não para o Controle. Eu trocava a urina de pote por mais de 5 vezes como nas aulas de química do colégio para que enfim os médicos chegassem a uma conclusão se faria outra coleta ou se aquela quantidade seria suficiente.
Isso tudo foi engraçado, até porque os italianos são escandalosos etc, mas serve de exemplo principalmente aos organizadores de competições no Brasil, a Confederação Brasileira de Triathlon etc, pois não podemos realizar competições há tanto tempo, com premiações, formando equipes nacionais etc, sem que jamais exista um Controle Anti-Doping. Acho inadmissível o Ironman Brasil, o Internacional de Santos e as provas da CBTRI não terem um exame de Controle Anti Doping. Deveríamos aproveitar que temos a atleta olímpica Sandra Soldan trabalhando como médica responsável por esses exames na natação e trazê-la também para o Triathlon.
Não estou aqui acusando ou desconfiando de ninguém. Só acho que nenhum atleta no Brasil toca neste assunto e nem pede ou exige esse tipo de procedimento. O mundo inteiro está lutando contra o doping e no Brasil não fazemos nada a respeito.
Falo isso tudo por duas situações que aconteceram justamente no Internacional de Santos. Em 1992, fui Vice Campeão da prova e o vencedor do evento, poucos meses antes havia sido pego num Controle na França e proibido de correr por lá. Há poucos anos atrás, uma atleta ainda cumprindo a suspensão de 2 anos participou e venceu o Internacional de Santos.
Acho que essas coisas acontecem pois nós atletas não somos unidos e também pela cultura brasileira da impunidade e da falta de memória.
Forte abraço a todos e bons treinos!!!
Marquinhos Ornellas
Concordo com vc Ornellas, exame antidoping no Brasil é lenda ! Tenho certeza que se houvesse, os resultados seriam outros e não esses desempenhos assombrosos e inexplicáveis de alguns prós e amadores que vemos hj por aí. Abs e sucesso !
ResponderExcluirParabéns pelos comentários sobre o anti-doping, Ornellas.
ResponderExcluirÉ muito gratificante ver um campeão defendendo essa bandeira (controle anti-doping).
Espero um dia ver o Brasil como uma potência mundial esportiva, especialmente no Triathlon.
Para isso, muitos conceitos terão de ser revistos; a cultura brasileira relacionada ao (fraco/inexistente) controle anti-doping sem dúvidas é uma delas.
Um abraço, e parabéns pelo exemplo.
Sômulo N Mafra