21 curvas históricas
O triatleta Marcus Ornellas relata sua participação no famoso Triathlon Alpe d'Huez no alpes franceses
O Triathlon do Alpe D’Huez está com o prestígio cada vez maior. Este ano foram mais de 1000 atletas no Triathlon Longo e 1200 no curto que foi realizado na quinta feira. No domingo passado aconteceu também um Duathlon com quase 500 participantes, que largava em Bourg D’Oisan e chegava no Alpe D’Huez.
Fotos: Ingo Kutsche
Desde a primeira edição da versão de Longa Distância em 2007 só não estive presente no ano passado, devido a cirurgia que fiz no joelho.
Fiquei muito feliz com a minha performance. Para me preparar bem para a prova, fiz um “Training Camp” particular no meio do mês de julho, onde saí pedalando de Grenoble até Turin, passando por várias montanhas que fariam parte do Tour deste ano. Foram 16 horas de bike em 4 dias com muitas montanhas .
Sabia que estava bem preparado pois no início do mês havia ganho um triathlon olímpico tradicional (14 edições) com 1200m de desnível na bike. Por isso fui confiante para a prova.
A previsão do clima frio e chuva com temporais se confirmou. Todos os atletas estavam cientes que o dia ia ser muito difícil!
A natação (2200m) foi realizada em Vaujany numa represa hidroelétrica com uma temperatura abaixo de 15 graus. Não nadei muito bem, mas pelo menos saí bem descansado para a transição. No ciclismo levei muita comida e estava agasalhado. Só faltou mesmo uma luva de inverno para me dar mais segurança nas descidas, pois meus dedos estavam congelados. Foram 115km com muita chuva, frio e neblina. Um verdadeiro filme de horror!
Passamos por 3 montanhas. A primeira de aproximadamente 20km, a segunda de 25km mas que não é muito inclinada e que sempre venta muito contra, e a terceira, a mais temida, o Alpe D’Huez com as suas 21 curvas de 180 graus… Entre cada uma das subidas enfrentamos descidas com partes técnicas ou velozes, porém sempre debaixo de temporal, o que me dificultava muito acompanhar os outros atletas. Nas duas descidas acabei perdendo tempo em relação aos líderes. Não me sentia seguro nas freadas das curvas com rodas de carbono, a bike derrapava e eu tinha que me esforçar muito nas subidas para alcançá-los. Felizmente estava “naqueles” dias e conseguia me recuperar .
Me senti forte durante toda a prova e cheguei no “pé” do Alpe D’Huez (km 100 da bike) na sétima posição. Fui passando 1 por 1 no Alpe, motivado em ver os nomes dos ciclistas do TOUR . Apesar da neblina comecei a ver o segundo colocado. A subida já estava praticamente no final e havia uma placa que faltavam 2 km pra chegada. Mas por uma falha tanto minha como da organização, acabei errando o percurso e seguindo o atleta da minha frente. O chão estava todo pintado por causa do TOUR de FRANCE. Além disso haviam setas indicando a direção da Área de Transição, mas eram setas para os acompanhantes estacionarem seus carros…
O evento cresceu muito e muitas coisas foram alteradas desde a última vez que fiz a prova. A natação foram duas voltas, a corrida é num percurso diferente do que eu costumava fazer e o local da área de transição também mudou. Tudo isso acabou me confundindo pois sabia que nunca tinha pedalado naquela parte, porém poderia ser uma outra pequena mudança… Com isso pedalei 2km a mais em subida e quando consegui chegar na transição, todos os atletas que eu havia passado, voltaram a estar junto comigo ou na minha frente. Chega a ser bizarro, mas o próprio vencedor da prova (correu muito bem) se beneficiou com isso, pois ele saiu atrás de mim na natação , não me ultrapassou e eu praticamente não o vi …
A corrida é em trilhas com sobe e desce. Variando terra, grama e asfalto. Corri bem os 22km do percurso, bem ritmado durante as 3 voltas. Na transição consegui ganhar umas posições e sustentei a pressão chegando em quarto lugar.
Estou muito feliz! Tenho 40 anos, já treinei e competi muito nesta vida. Ano passado nesta época do ano, estava voltando a poder pisar no chão, joelho não flexionava por causa da cirurgia, fazendo exercícios na piscina etc. Na época não sabia se conseguiria voltar a competir no mesmo nível. Na cabeça passam mil coisas e nunca ajudam muito… Mas muitas pessoas me ajudaram nesta recuperação e sou eternamente grato! Não importa ter o gostinho de que o meu erro do percurso tenha me custado, talvez, até uma segunda colocação, já que foram menos de 5’ para o segundo e menos de 2’ para o terceiro. O Triathlon do Alpe D’Huez é, sem dúvidas, a prova mais difícil do nosso esporte e estar entre os primeiros dentre os grandes atletas presentes, foi uma grande emoção pra mim!
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